Misericórdia e Algazarra, instalação do Edifício Misericórdia, que resgata a história de Tebas, reconhecido como primeiro arquiteto negro do Brasil
_Foto: Filippo Bamberghi
Casa Vogue de abril traz, na seção Casa Vogue Ama, a cobertura especial da 13ª edição da DW! Semana de Design de São Paulo, e revela o melhor dos mais de 200 eventos, entre exposições, instalações e lançamentos de produtos.
No centro histórico de São Paulo, o Edifício Misericórdia, mais novo empreendimento da região a ser retrofitado pela incorporadora Somauma, foi palco do projeto Seiva e Cidade, que tomou o prédio com uma série de instalações. A mais impactante delas, a mostra Misericórdia e Algazarra, com curadoria de Felipe Morozini, ocupou o nono andar resgatando a história de Joaquim Pinto de Oliveira, o Tebas, escravizado reconhecido como primeiro arquiteto negro do Brasil. Com cenografia assinada pelo estúdio Pistache Ganache, da dupla André Romitelli e Martina Brusius, o espaço reproduziu os antigos Chafariz da Misericórdia (obra atribuída a Tebas) e a Igreja da Misericórdia, capela situada em frente ao monumento que foi ponto de encontro para os escravizados da época. Na cena sacra imaginada por Romitelli e Martina, cadeiras assinadas por designers brasileiros, incluindo Giácomo Tomazzi, Philipe Fonseca e Renata Moura, compuseram a reprodução do altar demolido em 1866.
No alto do histórico Edifício Martinelli, primeiro arranha-céu de São Paulo, Rodrigo Ohtake e Oswaldo Mellone apresentaram novos móveis desenvolvidos em parceria com a Japi. As coleções Volumes by Ohtake e Tempo by Mellone reúnem peças de resina retromodulada, material responsável por proporcionar itens leves e resistentes. As linhas, compostas por sofás, poltronas e mesas de apoio para áreas externas, espalharam-se pela cobertura da construção, que, após sete anos fechada, reabriu ao público durante a DW! Semana de Design de São Paulo.
Ainda no Centro de São Paulo, a exposição Jardim de Absurdos, arte do projeto Seiva e Cidade, transformou um dos andares do Edifício Misericórdia numa verdadeira incubadora de novos talentos. O espaço ocupado pela Gengibrão, misto de estúdio de design e loja dedicada a marcas e artistas independentes, juntou o trabalho de mais de 20 jovens criativos prontos para florescerem. A cenografia pop e megacolorida acomodou esculturas, objetos decorativos e peças de mobiliário repletos de personalidade, a exemplo dos quadros da série Solar, de Leticia Txa, cerâmicas de Diego Rosendo e capacho da Rótulo em Branco.
Com projeto do arquiteto Felipe Hess, a Botteh, que está com sua nova loja na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, apresentou a exposição Mãos Soma, com propostas do coletivo de designers independentes formado por Bravio Studios, Estúdio Prosa, Melina Romano e Tomazi Cabral. Cada um deles produziu itens únicos com sobras de tapetes da marca, mesclando o artesanato tradicional persa com traços contemporâneos e experimentações de materiais.
Provocados pelos mistérios e as belezas desconhecidas do Universo, a designer têxtil Paola Muller e o diretor criativo Michell Lott uniram forças na concepção da instalação Imensidão, erguida no ateliê da artista, em Pinheiros. Entre os itens assinados pela dupla, brilharam o tapete Órbita, confeccionado com fio italiano feito à base de redes de pesca, e a tapeçaria (ou obra de arte?) Ilusão Noturna, que instiga devaneios através de suas constelações.
A Estufa dos Sonhos, experiência idealizada pelo diretor criativo Michell Lott na flagship da Casa Almeida, rede própria de varejo da Buddemeyer, localizada na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, permitiu que os visitantes manifestassem desejos que gostariam de realizar escrevendo-os em um caderno e semeando-os simbolicamente para que florescessem. Para representar os devaneios que se sucedem durante o sono, o espaço ainda ganhou imponentes flores de papel executadas pela designer Carolina Dabidubi, que emolduraram o leito aconchegante preenchido com roupas de cama da nova coleção da marca.
A Breton enalteceu a brasilidade ao lançar a coleção I'm Breton Brasil, apresentada na nova flagship da empresa, em Dubai, antes de ser exibida na DW!. Sob o olhar de Daniel Pegoraro, diretor de Estilo, Imagem e Produto da marca, a seleção possui 150 lançamentos, e teve a participação de 16 designers. Entre eles, Luisa Moysés assina a poltrona Sintonia, um convite aos encontros, histórias e memórias, e Valter Costa Lima inspira-se na pitanga, espécie nativa da Mata Atlântica, para conceber a sua primeira linha para a Breton. Utilizando técnicas de marcenaria tradicional, bar banco, bufê, mesa de jantar e rack capturam a essência do fruto, de seu fino galho de origem até suas formas arredondadas.
Em uma ação que despertou a curiosidade do público e gerou conexão com o espaço urbano, a Teto Casa idealizou o Circuito Gigantes do Design, que espalhou 20 móveis de grandes proporções pela capital paulista, inclusive em frente ao Edifício Copan, projetado por Oscar Niemeyer. Organizada pelo empresário e diretor criativo da marca, Sergio Fix, o projeto faz parte do retorno da empresa à produção de mobiliários residenciais, após duas décadas dedicadas ao mercado corporativo. Com o intuito de estreitar o diálogo com os consumidores, a Teto Casa se prepara para a abertura de uma loja na Galeria Metrópole, no centro da cidade.
Vizinho ao Copan, o prédio com arquitetura modernista icônica, assinado por Gian Carlo Gasperini e Salvador Candia, foi um dos endereços marcantes desta edição da DW! Semana de Design de São Paulo.
Entre as peças apresentadas durante a DW!, um dos destaques foram as luminárias da coleção Mantiqueira, inicialmente desenhadas para o refúgio da família Carmona, no sul de Minas Gerais, que traduzem o imaginário caipira a partir da interpretação de Marina Acayaba e Juan Pablo Rosenberg, do escritório AR Arquitetos. A atmosfera rural é reforçada pelos nomes das quatro peças: Pinhão, Capim, Balaio e Cuca, todas vendidas pela Etel. Com base de imbuia e cúpula de juta, os objetos, trabalhados manualmente, revisitam a iluminação acolhedora emitida pelos antigos lampiões.
À frente da Casa Olin, fundada em 2018, a designer Tayná Scholten aventurou-se pelo processo de produção de cerâmicas impressas em 3D utilizando um equipamento adaptado para o material. O Resultado de um ano e meio de experimentações foi o centro de mesa batizado de Travessia, uma ode à trajetória da arte do fazer manual com argila. A paulista guiou a criação pelo pensamento modular e por motivos de artes indígenas, que sintetizam elementos da natureza em padrões geométricos. Moldados com texturas quadriculadas empilháveis, os pequenos cubos sustentam a barca de madeira de demolição. Sutis, os complementos dourados aludem à cultura, à biodiversidade e aos minerais brasileiros.
Em comemoração aos seus 70 anos, a Milar desenvolveu uma nova identidade visual e aproveitou a oportunidade da Semana de Design paulistana para apresentar alguns lançamentos. Entre eles, a poltrona e o balanço Nini, parte da coleção Memórias, primeira linha de mobiliário assinada pela arquiteta Ana Alonso. A estreia não poderia ser mais cheia de significados: os itens são uma homenagem à avó materna da autora, e unem traços atemporais com detalhes que remetem às histórias contadas pela matriarca.
O designer Jader Almeida transformou seu espaço no Jardim Guedala em showroom de sua nova marca In & Out, especializada em itens aptos para transitar entre espaços internos e externos. É o caso da mesa Buni, apresentada com acabamentos diferentes, como o tampo de quartzito Green Meteor, e das novíssimas cadeiras Due, com um apurado trabalho de aço inox e madeira moldada em CNC e tecido Brutalist, da Pierre Frey – reforçando a introdução de mais cores e estampas aos produtos do portfólio –, além do compacto e versátil carrinho One.
Em sua terceira participação no circuito oficial da DW!, Gabriela Nora, fundadora da Galeria Botânica, chamou a atenção ao levar para a loja, em Pinheiros, os vasos e luminárias criados em parceria com o irmão, o arquiteto catarinense Gustavo Neves. Feitas à mão, as peças da coleção Cores da Terra exploram toda a poesia e organicidade do barro moldado com técnicas artesanais.
O contraste entre a beleza do natural e o ritmo frenético da vida contemporânea nas metrópoles norteou a coleção desenhada por Carol Gay para a Decortile. A novidade movimentou o Espaço B, novo ambiente projetado pelo escritório FGMF, que abriga as marcas Eliane, Decortiles, Elizabeth e Eliane Floor. Com uma profusão de cores, formas e texturas, a linha de Carol é composta por cinco séries: Casca, Lascas, Raízes, Traço e Bola. Os revestimentos com detalhes esmaltados estão disponíveis em sete cores principais, com acabamento acetinado, no formato 19 x 19 cm.
Confira o conteúdo completo da reportagem na edição de Casa Vogue de abril, disponível em versão digital e nas melhores bancas do país.
