RESILIÊNCIA FEMININA
Mas, mesmo ferida por uma indústria que ainda hoje é dominada por homens, Alva ainda recorre à arte como forma de cura. "Muitas vezes essas faixas foram o meu ponto de cura, lucidez e sanidade", conta. É a partir do lado B do novo disco, inclusive, que esse contra-ataque mais arde.
"MEDUSA", por exemplo, traz a explosão a potência da mensagem do registro. Ao fazer referência à figura mitológica que foi punida após sofrer um abuso e tornou-se uma mulher temida pelo homem, Alva entrecruza a narrativa da mitologia clássica grega com as opressões que ela mesma já viveu, principalmente no mercado da música, em busca por sua própria liberdade artística.
Já conhecida pelos fãs, "FLIPADA" conta com a colaboração de Chameleo nos vocais e canta sobre um homem covarde, que tem medo dos próprios sentimentos e, por isso, responde amor com desrespeito.
O tempero latino da sonoridade de "ARDE", por sua vez, se destaca na tracklist. Em colaboração com CLEO e a rapper Laysa, Alva transforma uma troca de experiências entre mulheres artistas em hino de união e fortalecimento feminista. "Feminino é chama e arte / Feminino é chama e arde", cantam, na canção que deve ganhar um videoclipe dirigido por Felipe Ribeiro em junho.
É perceptível também que, além da luta, a vulnerabilidade emocional aqui também tem poder de cura. Em "MAIS UMA BALADA TRISTE", por exemplo, a carioca disseca o processo de culpa e as perguntas sem resposta que vêm de uma separação difícil, com o piano dominando a paisagem, apenas com interferências de reverb, simbolizando "o molhar do choro e o seco da solidão", como ela mesma define.
A partida ainda não foi superada em "NUNCA MAIS", mas é encarada de frente na faixa de encerramento do trabalho, "ERA EU". "Vai se confundir até / Tentar entrar e destruir minha mente", Alva canta, acusando o gaslight presente em uma relação que oferecia pouca estabilidade emocional.
"Esse álbum é muito importante para minha história como mulher. Ele é uma forma de ouvir a minha própria voz e força. Estamos todas vivendo muitas violências e a sociedade ainda não entendeu a urgência da expansão deste assunto. É questão de vida ou morte", ela conclui, ao refletir sobre as experiências que inspiraram seu processo criativo.